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Gancho de Esquerda

 Eu olho para seus pés tentando desvendar o próximo golpe, mas ele muito rápido. Assim que abaixo um pouco a guarda, ele me acerta em cheio no queixo com seu poderoso gancho de esquerda. Caio no chão nocauteado ouvindo o toque do meu despertador dizendo que são meio-dia. Giro no tatame abraçando os travesseiros, eles fedem a suor e a café. Meu adversário se mantém de pé a minha frente com seu corpo definido sem nenhum um arranhão e com os olhos queimando de empolgação e motivação. Eu por vez estou aos frangalhos, sem força de escovar os dentes ou levantar da cama que mantem minha silhueta. Eu ouço ao fundo da multidão que aplaude meu adversário, alguém chamar meu nome ou é um miado, eu não sei mais. Mesmo jogando a toalha todos os dias, meu adversário não para de me bater até eu cair no chão com os olhos vermelhos e vazios contemplando a escuridão. Não é perder que me faz sentir assim, estou acostumado com a derrota, mas a dor que meu diabo causa. Eu só quero poder fazer a dor parar, e

Jacarés

 - É hoje. - Falou João para Lucas. - Finalmente meu filho vai se casar. - É papai nem dormi direito. - Lucas penteou os cabelos cacheados para baixo tentando arruma-lo. - Me deu uma dor de barriga. - Sossega filho, agora é só ladeira baixo. - Brincou o pai que levou um tapa de advertência de Marta. - Estou só brincando querida. - Quer dizer que te levei ladeira abaixo? - Acusou com as mãos nas cadeiras. - Lucas coma umas maçãs e não beba leite que tua barriga já melhora. - Sim senhora. - Lucas olhou para o relógio que se demorava a passar. - Mãe será que isso vai dar certo? - Esfregou as mãos preocupado. - Magnólia é demais para mim. - Pare de ser bobo. - Acalmou o filho com um beijo na testa. - Você é o menino mais inteligente da nossa cidade. - Da cidade? - Indagou o João rindo. - O menino inventou um robô que entra no corpo e cura todas doenças e regenera os órgãos. Da cidade. - Riu o pai. - Ele é o mais inteligente do império, quiça do continente. - Não é algo tão grande assim. -

Dia de Cão

 Acordei com o pé esquerdo. Minha mãe gritava com meu pai sobre alguma conta que estava atrasada e não podia se pagar com o cartão ou com sua cara  lavada. Derrubei o espelho. Vesti o uniforme mais rápido que pude e ao morder meu pão percebi que no lugar  da manteiga havia banha de porco e requeijão. A minha camisa estava ao avesso. Passei na rua correndo o que fez todos os cachorros começarem a latir e a me seguir. Corri mais rápido e quando olhei para trás para conferir se algum ainda me seguia topei no poste velho meu nariz. Passei debaixo de uma escada. Durante a aula xadrez abaixei para pegar uma peça a e minha calça rasgou de uma só vez. Uma coruja piou. Peguei minhas coisas e corri para casa evitando tudo e todos, mas do alto fui feito de alvo, meleca branca escorria pela costa quando desviei do gato preto pisei em uma mole bosta. Andei para trás. No portão de casa a chave quebrou e minha mãe de dentro do meu ouvido gritou. - Acorda filho que o galo cantou.

Espinho Maldito

Com seu irmão bastardo desmaiado em seus braços e ao longe vendo seu reino ser queimado Guntar sepultou todos seus sonhos de cavaleiros e os substituiu por vingança e sangue. Depois de dias vagando pela floresta que fora seu reino encontram Marreta Forte e sua filha Layla. Juntos os últimos da casa Espinho de Fogo e os ferreiros se acomodaram na vila mais próxima chamada Skrongar.  Anos de treinamentos, trabalhos e dor seguiram Guntar e Sussurros. Os dois irmãos usavam suas armas opostas para ganharem força e respeito. Guntar mais forte que a bigorna que aprendeu a martelar a perfeição e Sussurros mais sagaz que qualquer livro que leu. Guntar conhecia as armas assim como mexia seus dedos e Sussurros mudava as mentes dos homens assim como trocava de roupas. Os dois antes de se tornarem homens feitos eram temidos por velhos barbados e por assassinos experientes. Em um dia péssimo de caça encontram uma garota desmemoriada e maltrapilha usando as cores do cruel rei Agenor. Sussurros com se

A Menina dos Olhos Vermelhos

 Todos os dias eu a via com sua calça moletom larga preta e camisa cinza com mangas alaranjadas. Sua bolsa era um jeans esverdeado cheio de bottons e chaveiros. Por algum motivo sempre que o ônibus descia uma ladeira ingrime ela apertava, meio inconsciente acredito eu, o chaveiro que parecia um pato azul de borracha.  As pessoas pareciam ignora-lá assim com faziam comigo. Quase ninguém sentava do seu lado, assim como bem poucos falavam com ela. Nisso ela era melhor do que eu, pois ninguém falava comigo, as vezes, tinha a sensação de que era invisível ou um fantasma. Ela sentava de segunda a sexta no banco alto no meio do ônibus virada para janela. Quase não se mexia e se não fosse pelo seu reflexo que denunciava suas longas piscadas poderia dizer que estava morta, ou algo perto disso. Seus cabelos pareciam uma representação perfeita de uma noite sem estrelas e lua. Sua pele parecia ouro derretido no centro do Sol.  Nem mesmo Pandora poderia ser tão perfeita e nem Medusa teria olhos tão

Sete Vidas

 Não há nada que me irrite mais do que me acordarem de um longo e gostoso sono.  É claro que crianças, adolescentes, adultos e idosos também me irritam, exceto quando são uteis.  Cachorros irritam também e água é mó chatão.  Ter que dar atenção para os humanos é uma canseira sem fim, eles são tão carentes. Para alegra-los permito que me façam coisas, como trocar a minha caixa de areia, fazer minha comida e passar a mão em minha barriga, com cuidado é claro. Eu os salvo de alguns demônios e fantasmas, e até deixo comida para eles como ratos e passarinhos, mas são tão exigentes que jogam fora. Só faço minha parte. Como tenho um senso de moda refinado vivo arrumando as coisas. Eles não entendem que vidro, quadros e outros objetos que colocam na estante tem que ficar no chão para que eu ande no alto.  Eu sou muito calmo, mas fico louco e, confesso, até insano quando vejo o Pontinho. O Pontinho é meu rival por eras, sempre que acho que peguei, ele foge entre minhas patas. Não posso reclamar

Pingado com Deus

  Um moço encontra Deus em uma padaria no final da esquina. O moço corre furioso em sua direção e diz. - Como o senhor pôde deixar a minha vida se tornar uma merda? Deus sorri e toma um longo gole de café quente embaçando as lentes do óculos com armação quadrada. - Deixando. - Deus responde sem olhar para o moço enquanto passa manteiga no pão sorrindo. - Mas me diga uma coisa, quem mora nesse planeta? O moço irritado com a veia saltando da testa responde ríspido. - Os humanos, que pergunta idiota. Os homens que te amam tanto e sofrem por sua causa e do diabo. Deus preenche o pão com presunto e mussarela enroladinhos em forma de canudos. - Interessante. - Deus dá uma mordida saboreando o seu sanduiche. - Sabia que segundo Jung os homens projetam sua culpa no outro? - Deus coloca seu sanduiche sobre a mesa ao lado do seu tablet e de uma HQ de Solomon- Amaldiçoado Seja e sorri. - Não que o diabo seja inocente, mas só está fazendo o trabalho dele. Moço treme de raiva se segurando o