A Menina dos Olhos Vermelhos

 Todos os dias eu a via com sua calça moletom larga preta e camisa cinza com mangas alaranjadas. Sua bolsa era um jeans esverdeado cheio de bottons e chaveiros. Por algum motivo sempre que o ônibus descia uma ladeira ingrime ela apertava, meio inconsciente acredito eu, o chaveiro que parecia um pato azul de borracha. 

As pessoas pareciam ignora-lá assim com faziam comigo. Quase ninguém sentava do seu lado, assim como bem poucos falavam com ela. Nisso ela era melhor do que eu, pois ninguém falava comigo, as vezes, tinha a sensação de que era invisível ou um fantasma.

Ela sentava de segunda a sexta no banco alto no meio do ônibus virada para janela. Quase não se mexia e se não fosse pelo seu reflexo que denunciava suas longas piscadas poderia dizer que estava morta, ou algo perto disso.

Seus cabelos pareciam uma representação perfeita de uma noite sem estrelas e lua. Sua pele parecia ouro derretido no centro do Sol. 

Nem mesmo Pandora poderia ser tão perfeita e nem Medusa teria olhos tão hipnotizantes. 

Eram vermelhos. Mas não qualquer vermelho, e sim vermelho sangue e quente. Rubis não possuíam um vermelho tão magnífico. Acredito eu que não haja no espectro de cor e luz tal intensidade.

Por todos os dias eu a via entrar, sentar e se perder em suas músicas ou desenhos. De tanto observar descobri que ela gostava de rock alternativo e folk. Adorava comer caramelo e tinha alergia a banana. Odiava a mãe e sentia falta do pai. Ficava com chulé sempre que usava meias de pares diferentes, e havia furado o umbigo e se arrependia.

Observar ela era o momento do meu dia em me sentia mais vivo e em paz.

Eu estava fadado a subir no ônibus, ver a menina dos olhos vermelhos, descer no décimo terceiro ponto e ser vítima de uma bala perdida.



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