Espinho Maldito

Com seu irmão bastardo desmaiado em seus braços e ao longe vendo seu reino ser queimado Guntar sepultou todos seus sonhos de cavaleiros e os substituiu por vingança e sangue.

Depois de dias vagando pela floresta que fora seu reino encontram Marreta Forte e sua filha Layla. Juntos os últimos da casa Espinho de Fogo e os ferreiros se acomodaram na vila mais próxima chamada Skrongar. 

Anos de treinamentos, trabalhos e dor seguiram Guntar e Sussurros. Os dois irmãos usavam suas armas opostas para ganharem força e respeito. Guntar mais forte que a bigorna que aprendeu a martelar a perfeição e Sussurros mais sagaz que qualquer livro que leu. Guntar conhecia as armas assim como mexia seus dedos e Sussurros mudava as mentes dos homens assim como trocava de roupas. Os dois antes de se tornarem homens feitos eram temidos por velhos barbados e por assassinos experientes.

Em um dia péssimo de caça encontram uma garota desmemoriada e maltrapilha usando as cores do cruel rei Agenor. Sussurros com seus olhos afiados e hipnotizantes sugeriu que matassem tal criatura abandonada pelas Estrelas Etéreas, mas Guntar sentiu pena da alma moribunda e que lhe permitir a vida.

Os dois irmãos discutiram com seus olhos e caretas, mas Sussurros por ser mais novo deu a vitória Guntar.

As lutas e revoltas se tornaram mais fortes e sangrentas. Guntar estava em todas com seu martelo de guerra com cabeça de espinhos, sua armadura fosca, leve e mais resistente que qualquer outra e sua liderança que inspirava quase todos. Os que não eram inspirados pela coragem do herói do martelo espinhoso era convencido pelos sussurros do Sussurros,  que conhecia segredos, pecados e arte da manipulação e leitura da mente dos viventes.

Assim que floresceu Layla era tão bela quanto suas armas, e por ter essas duas belezas fez com que Guntar se perdesse em amor. Em uma primavera enquanto caçavam cervos e javalis deram seu testemunho de amor entre as dríades, faunos, e o Homem Verde e a Mãe Terra. 

Depois de anos Sussurros voltava a ver seu irmão sorrir e para não ficar atrás tomou Jocelyn, a garota sem memória como esposa. Além de bela possuía a habilidade de falar várias línguas e fazia amizade facilmente, e essas armas eram preciosas quando se sabia usa-las. E em uma nevasca forte enquanto pesquisavam a cura para os esporos que assolavam sua vila arderam em desejos e consumiram sua paixão diante do Senhor dos Gelos com as fadas do conhecimentos e o glutão da fogueira como testemunha.

Guntar estava pronto para completar seu vigésimo verão quando conseguiu estourar os portões do que um dia tinha sido seu castelo. Seu corpo estava banhado em sangue e sua armadura tinha sido perdida à três investidas atrás. Seu martelo havia deixado alguns espinhos em seus inimigos e parecia que tinha sido temperado em ódio e sangue, ao ponto de estar grudado na mão do herói. Caminhou com passos largos pelo lugar que brincou com sua mãe antes dela ser violada e jogada as porcos, passou pela cozinha aonde havia o melhor melado duro do mundo e por fim chegou a frente das portas do sala do trono. 

O coração de Guntar batia mais forte e mais alto que qualquer forja.

Entrou com um supetão derrubando ferros e madeira. Caminhou não como um exilado maldito, mas como novo e verdadeiro rei de Água-Longa. Sentado em seu trono usurpado estava Agenor com odres de variados tamanhos caídos aos pés assim como os corpos de seus servos fiéis. 

O usurpador ameaçou falar, mas Guntar feroz como um urso lhe acertou um porretão nas pernas desmaiando-o de dor e o deixando aleijado. Jogado foi nas masmorras e como ato de misericórdia deixaram uma agulha em forma de espinho.

Naquela mesma noite Guntar, O Urso-Espinho, foi coroado rei e houve breve paz naquele reino.

Algumas luas mais tarde depois de calorosa discussão com seu irmão Sussurros sobre fazer alianças e futuro, Guntar chegou em seu castelo chutando patos e gansos até adentrar em seus aposentos e ver a pior cena em sua pífia vida. Layla seu grande amor estava morta banhando seu leito de nupcial com seu sangue de jovem mãe com uma agulha cravada em sua barriga gestacional. Guntar perdia seus dois amores com um só espinho.

Desesperado e arrancando os cabelos saiu pelo frio castelo gritando socorros, amaldiçoando os deuses e bradando morte a todos que estavam dentro do seu sepulcro. Seus pés em vingança o guiaram até as masmorras, onde encontrou Jocelyn com  as chaves do carcere de Agenor,O Cruel,  a desmemoriada lembrou-se que era a filha do usurpador e em piedade e amor tentou salva-lo. Guntar urrou de fúria agarrando o pescoço da doce mãe de seus sobrinhos batendo sua cabeça na parede insensível das molhadas e podres masmorras. Martelou até desforjar a rosto de sua cunhada que caiu sem vida agarrando o pingente em forma de sol que havia sido um presente de casamento de Guntar.

Perdido em dor e ódio correu para torre de beira mar e fez das pedras lascadas e  da água salgada seu túmulo.

Sussurros não podendo mais ver beleza no mundo sem seus dois amores cegou-se os olhos com a agulha maldita. Enviou seus filhos para crescerem em uma terra distante com todos os confortos que lhe foram negados por nascer bastardo. Em dor confortou o povo e fez todos os rituais para que as almas conseguissem algum descanso e paz, e entregou o reino nas mãos de um rei tão bom  que reis davam seus reinos para que ele cuidasse.

Em um dia chuvoso após os setenta e sete dias de descanso da terra e do mar sem sangue Sussurros subiu ao alto da torre de beira mar e saltou para os braços do seu verdadeiro amor Guntar.



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