Jacarés

 - É hoje. - Falou João para Lucas. - Finalmente meu filho vai se casar.

- É papai nem dormi direito. - Lucas penteou os cabelos cacheados para baixo tentando arruma-lo. - Me deu uma dor de barriga.

- Sossega filho, agora é só ladeira baixo. - Brincou o pai que levou um tapa de advertência de Marta. - Estou só brincando querida.

- Quer dizer que te levei ladeira abaixo? - Acusou com as mãos nas cadeiras. - Lucas coma umas maçãs e não beba leite que tua barriga já melhora.

- Sim senhora. - Lucas olhou para o relógio que se demorava a passar. - Mãe será que isso vai dar certo? - Esfregou as mãos preocupado. - Magnólia é demais para mim.

- Pare de ser bobo. - Acalmou o filho com um beijo na testa. - Você é o menino mais inteligente da nossa cidade.

- Da cidade? - Indagou o João rindo. - O menino inventou um robô que entra no corpo e cura todas doenças e regenera os órgãos. Da cidade. - Riu o pai. - Ele é o mais inteligente do império, quiça do continente.

- Não é algo tão grande assim. - Lucas mordeu a maçã para afastar o mal hálito. - Mas Magnólia é mais inteligente que eu, ela conseguiu descobrir o elo perdido da humanidade e uma forma de retardar a velhice. Eu pareço uma criança brincando com um giz perto dela.

- Uma criança que salvou um número infinito de pessoas. - Confortou a mãe firme. - Agora pare de pensar sobre isso. Se você não fosse suficiente eu não ouviria os gritos do seu quarto quando ela está aqui ou ela não teria te pedido em casamento.

- Que vergonha mãe. - Lucas abaixou os olhos encarando sua maçã comida. - Certo, vou ir tomar um banho e depois ir para o sítio ajudar a organizar as coisas finais.

***

- Ficou sabendo senhor Lucas? - Perguntou Enzo, o cuidador do sítio. 

- Do quê? - Lucas estava pingando de suor enquanto trocava as mesas de lugar. 

- A fábrica de fumaça foi fechada. - Enzo jogou os chapéu de palha para trás revelando seus olhos azuis calorosos. - Vieram até uns polícia da capital com robô, cachorro e drones. Mó forfé.

- Curioso, - Lucas tirou a camisa para tentar aliviar o calor. - Não vi notícia nenhuma sobre isso.

- Bem, não era pra eu contar. - Coçou a cabeça encabulado. - Os polícia pediram pra eu ficar de bico quieto, pois era algo de estudo secreto dos não sei das quantas,  mas escapou. Não conta pra ninguém tá.

- Não se preocupe Enzo, tenho certeza que não é nada de mais. - Lucas olhou para a decoração e viu que estava pronto. - Vamos tomar uma gelada e esperar o bufê.

- Ôpa. - Concordou Enzo.

***

- Eu sei que está calor, mas bem que podia ter água quente. - Reclamou Lucas para si pulando debaixo da água fria. 

- Querido posso entrar? - Gritou Magnólia batendo na porta. - Eu quero te mostrar algo. 

- Entra. - Respondeu batendo os queixos e desligando o chuveiro.

- Uiui. Que delícia. - Provocou assim que viu o futuro marido. - Eeee... Esqueci o que vim fazer aqui. - Falou sorrindo.

- Engraçadinha. - Rebateu Lucas tirando os cachos molhados dos olhos. - O que queria me mostrar?

- Ah, isso. - Magnólia alisou com cuidado seus longos cabelos pretos afastando-os de vestido preto que ficaria por baixo do vestido de noiva. - Eu descobri um meio que podemos cultivar nossos cérebros e se combinarmos nossas criações poderíamos criar corpos sintéticos biologicamente compatíveis com o nosso cérebro...

- Isso nos tornaria imortais, porém mutáveis. - Os olhos de Lucas se animaram. - Isso não causaria dano ao equilíbrio. - A empolgação foi tanta que deixou a toalha cair. - E como já podemos criar comida a partir da célula animal e criar água em laboratório, não afetaríamos o meio ambiente, mas teríamos problemas de territórios. - Ele correu até a futura esposa a girando no ar. - Meg isso é surreal.

-  Eu sei. - Beijou-o apaixonadamente. - Eu não me sinto assim tão empolgada com uma idéia desde consegui implantar uma cauda em mim. - Balançou a cauda para se afirmar. - Esse pode ser nosso projeto de casados, mas é claro, depois das nossas núpcias.

- Eu te amo. - Falou Lucas se derretendo de amor. - Você me faz tão feliz.

- Eu te amo mais. - Rebateu Magnólia abraçando-o. - E eu nem sei dizer o quanto você me faz feliz, e olha que meu emprego é dizer o quanto das coisas.

- Engra... - Lucas parou de falar assim que um estrondo ensurdecedor abalou o banheiro. - O que foi isso?

- Não sei? -  Respondeu Magnólia pegando na mão do amado e saindo do banheiro. - Chuva?

- Sim, chuva de jacarés. - Completou Lucas.



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